segunda-feira, março 31, 2008

O Estatuto do Aluno na RAM

No momento em que tanto se discutem os graves incidentes na Escola Carolina Michaelis, no Porto, gostaria aqui de realizar um pequeno exercício de comparação, que servirá também para tentar asclarecer algumas dúvidas que me assolam.

Quais as medidas mais adequadas, ao nível de indisciplina que graça nas nossas escolas?
Que medidas poderão ser tomadas, perante o proteccionismo que a nossa sociedade confere aos jovens e adolescentes?
Que sociedade estamos a criar?
E se este “incidente” ocorresse numa escola da RAM!! Quais seriam as consequências?


Coloco estas questões porque, na região estes casos também acontecem, mas também porque a RAM dispõem de legislação própria no que se refere ao estatuto do aluno (Estatuto do Aluno dos Ensinos Básico e Secundário da Região Autónoma da Madeira -Decreto Legislativo Regional nº 26/2006/M.
Logo, considero pertinente despertar algumas consciências para os direitos e deveres que muitas vezes os intervenientes no processo educativo desconhecem.
Antes de mais, quero aqui salientar quais os objectivos deste estatuto. Segundo o seu Artigo 2º:


“O estatuto prossegue os princípios gerais e organizativos do sistema educativo, em especial promovendo a assiduidade, a integração dos alunos na comunidade educativa e na escola, o cumprimento da escolaridade obrigatória, o sucesso escolar e educativo e a efectiva aquisição de saberes e competências.”

Segundo este, a sua regulamentação compete (Artigo 4):

“1—O regime ora instituído deve ser desenvolvido pelo regulamento interno da escola, de acordo com os princípios da autonomia, administração e gestão, contemplando, nomeadamente:
a) Direitos e deveres específicos dos alunos;
b) Utilização das instalações e equipamentos da escola;
c) Adopção de vestuário ou indumentária adequada às actividades escolares específicas;
d) Acesso às instalações e espaços escolares;
e) Regras para a realização do conselho de turma;
f) Determinação das tarefas úteis à comunidade escolar;
g) Locais de permanência dos alunos na sequência de ordem de saída da sala de aula;
h) Eleição de representantes dos alunos nos órgãos
de administração e gestão da escola;
i) Reconhecimento e valorização do mérito, da dedicação
e do esforço no trabalho escolar, bem como do desempenho de acções meritórias em favor da comunidade em que o aluno está inserido ou da sociedade em geral, praticadas na escola ou fora dela.
2—A escola deve promover a participação da comunidade escolar no processo de elaboração do seu regulamento interno, mobilizando, para o efeito, alunos, docentes, pessoal não docente e pais e encarregados de educação.
3—O regulamento interno da escola é aprovado de acordo com o disposto no regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos de educação e de ensino.”

Pese embora a regulamentação específica de cada escola existe um conjunto de regras que se constituem em deveres dos alunos (artigo 9º), nomeadamente:


“1—A realização de uma escolaridade bem sucedida, numa perspectiva de formação integral do cidadão, implica a responsabilização do aluno, enquanto nuclear da comunidade educativa, e a assunção dos seguintes deveres gerais:
a) Assiduidade;
b) Pontualidade;
c) Respeito;
d) Responsabilidade;
e) Honestidade.
2—O dever de assiduidade consiste em comparecer regular e continuamente às aulas ou a outras actividades escolares.
3—O dever de pontualidade consiste em respeitar o horário de início e termo das actividades escolares.
4—O dever de respeito consiste em:
a) Seguir as orientações dos docentes relativas ao seu processo ensino-aprendizagem;
b) Respeitar as instruções do pessoal docente e não docente quando dadas em objecto de serviço;
c) Reconhecer o exercício do direito à educação e ensino dos outros alunos;
d) Tratar com respeito e correcção todos os membros da comunidade educativa;
e) Não danificar nem se apropriar dos bens de qualquer elemento da comunidade escolar;
f) Salvaguardar a integridade física e psíquica de todos os membros da comunidade educativa.
5—O dever de responsabilidade consiste em:
a) Promover a defesa, conservação e asseio da escola, nomeadamente no que diz respeito às instalações, material didáctico, mobiliário e espaços verdes, fazendo uso adequado dos mesmos;
b) Observar o regulamento interno da escola;
c) Colaborar na realização das actividades desenvolvidas pela escola;
d) Permanecer na escola durante o seu horário, salvo motivo de força maior devidamente comprovado;
e) Abster-se do consumo de álcool e de substâncias estupefacientes ou da prática de quaisquer actos que a tal conduzam;
f) Ser, diariamente, portador do cartão de estudante e da caderneta escolar;
g) Participar na eleição dos seus representantes e prestar-lhes colaboração;
h) Não transportar quaisquer materiais, instrumentos ou engenhos passíveis de, objectivamente, causarem danos físicos ao próprio ou a terceiros.
6—O dever de honestidade consiste em:
a) Utilizar os benefícios da acção social escolar exclusivamente para os fins que determinam a sua concessão;
b) Colaborar com os responsáveis no apuramento da verdade no âmbito dos processos instaurados ao abrigo do presente diploma.”

A violação destes deveres, implica algumas medidas disciplinares (artigo 24º):


“1—O comportamento do aluno que se traduza na violação de um ou mais dos deveres gerais ou específicos constitui infracção disciplinar susceptível de aplicação de medida disciplinar.
2—As medidas disciplinares têm objectivos pedagógicos, visando promover a formação cívica dos alunos, tendente ao equilibrado desenvolvimento da sua personalidade e à sua capacidade de se relacionar com os outros, bem como à sua plena integração na comunidade educativa.”

Essas medidas estão tipificadas da seguinte forma (artigo 25º):

“Ao aluno cujo comportamento se consubstancie em infracção disciplinar é aplicável uma das seguintes medidas disciplinares:
a) Advertência ao aluno;
b) Ordem de saída da sala de aula;
c) Advertência comunicada ao encarregado de educação;
d) Repreensão registada;
e) Inibição de participar em actividades de complemento curricular;
f) Realização de actividades úteis à comunidade escolar;
g) Suspensão da frequência da escola até cinco dias úteis;
h) Suspensão da frequência da escola de 6 a 10 dias úteis;
i) Expulsão da escola no ano lectivo.”

Estas medidas são aplicadas, segundo o artigo 27º, quando ocorrem os seguintes factos:

“1—A advertência é aplicável ao aluno que pratique pequenas irregularidades.
2—A ordem de saída da sala de aula aplica-se ao aluno que, apesar de advertido, mantenha o comportamento perturbador, nos termos previstos no n.o 2 do artigo 26.o
3—A advertência comunicada ao encarregado de educação é aplicável ao aluno que pratique, reiteradamente, pequenas irregularidades.
4—A medida de repreensão registada é aplicável ao aluno que, nomeadamente:
a) Não siga as orientações dos docentes, relativas ao seu processo de ensino-aprendizagem;
b) Não acate as orientações do pessoal docente e não docente.
5—A inibição de actividades de complemento curricular é aplicável ao aluno que, nomeadamente:
a) Não observe as normas regulamentares da escola;
b) Não colabore nas actividades desenvolvidas pela escola.
6—A medida de realização de actividades úteis à comunidade escolar é aplicável ao aluno que, nomeadamente:
a) Não cumpra, injustificadamente, o dever de pontualidade;
b) Não use de correcção para com os membros da comunidade escolar;
c) Coloque em causa a defesa, conservação e asseio da escola;
d) Perturbe o normal funcionamento das actividades educativas;
e) Se ausente da escola durante o seu horário sem a devida autorização.
7—A suspensão é aplicável ao aluno que, nomeadamente:
a) Não cumpra, de forma reiterada e ostensiva, os deveres de assiduidade e pontualidade;
b) Desrespeite, gravemente, qualquer membro da comunidade escolar;
c) Danifique, intencionalmente, as instalações da escola ou os bens pertencentes a qualquer elemento da comunidade escolar;
d) Utilize os benefícios da acção social escolar para fins diferentes dos que determinam a sua concessão;
e) Preste falsas declarações no âmbito de processos instaurados ao abrigo do presente diploma;
f) Consuma álcool ou substâncias estupefacientes.
8—A expulsão da escola no ano lectivo aplica-se ao aluno que, nomeadamente:
a) Agrida fisicamente qualquer elemento da comunidade educativa;
b) Injurie ou difame, gravemente, qualquer elemento da comunidade escolar;
c) Promova o consumo de álcool ou de substâncias estupefacientes;
d) Incorra, de forma reincidente, nos comportamentos previstos no n.o 7 deste artigo.”

A leitura que faço, à luz deste estatuto, implicaria, na minha opinião, para um caso semelhante ao da escola Carolina Michaelis, a expulsão da aluna no ano lectivo em curso, porém não está implícito, mas se calhar deveria estar, se o aluno(a) poderá se inscrever noutra escola no mesmo ano lectivo (cá fica a dúvida).
Obviamente!!! A suspensão só se aplica, segundo o Artigo 49º, se o aluno estiver fora da escolaridade obrigatória.

“Alunos abrangidos pela escolaridade obrigatória
1—A aplicação da medida disciplinar de suspensão da frequência da escola aos alunos do ensino básico abrangidos pela escolaridade obrigatória deve ser substituída pelas de realização de actividades úteis à comunidade escolar ou de inibição de participar em actividades de complemento curricular, salvo nos casos em que, fundamentadamente, seja reconhecido que aquela suspensão é a única medida apta a alcançar os objectivos subjacentes à aplicação das medidas disciplinares.
2—Aos alunos a que se refere o número anterior não é aplicável a medida disciplinar de expulsão da escola.”

Confesso que, após esta pesquisa ao estatuto do aluno em vigor na RAM, continuo assolado por muitas dúvidas que me levaram a realizar esta análise:
Serão estas, as medidas mais adequadas, ao nível de indisciplina que graça nas nossas escolas?
Que medidas poderão ser tomadas, perante o proteccionismo, na minha opinião exagerado, que a nossa sociedade confere aos jovens e adolescentes?
Que sociedade estamos a criar?

Educação by Incorrigíveis

Como já aqui referi, por vezes recorrer ao humor é o melhor remédio!!

sexta-feira, março 21, 2008

Chocante - O Estado da Arte




Imagens originais:





Os números mais recentes sobre a violência na escolas, compilados pelo Observatório da Segurança em Meio Escolar e divulgados no final do ano passado, davam conta de 185 agressões participadas contra professores em 2006/2007. O que quer dizer que, em média, por cada dia de aulas há um docente agredido (o ano lectivo tem cerca de 180 dias de aulas).
E não se pense que estas situações ocorrem apenas nas grandes cidades e nas escolas dos bairros mais problemáticos. Recordo que, ainda à bem pouco tempo, na escola Básica e Secundária do Estreito de Câmara de Lobos, chegou à opinião pública uma situação semelhante. Mas infelizmente estes casos que têm chegado à opinião pública são apenas a ponta desse enorme iceberg que é a indisciplina nas escolas. No mesmo relatório citado anteriormente, são ainda referidas 147 agressões ou tentativas de agressão a pessoal auxiliar. Não esqueçamos que as situações que acabam por ser denunciadas, são normalmente, as muito graves, aquelas onde existe material de prova e aquelas cujas vitimas têm coragem de denunciar, passando em claro muitas outras que por vergonha, medo ou resignação nunca chegam ao ao conhecimento das autoridades e muito menos da opinião pública.
Para finalizar este triste quadro, relembro que, segundo foi noticiado, a mãe da aluna em causa foi chamada à escola e após tomar conhecimento da situação tentou agredir um elemento do Concelho Directivo da Escola... Mais palavras para quê!!!!

terça-feira, março 18, 2008

Alvin Toffler -Uma visão do Sistema Educativo (Para meditar)

Alvin Toffler, nascido a 3 de Outubro de 1928, é um escritor e futurista norte-americano doutorado em Letras, Leis e Ciência, conhecido pelos seus escritos sobre a revolução digital, a revolução das comunicações e a singularidade tecnológica e como especialista em apontar tendências para o futuro, tema dos seus onze livros
Os seus primeiros trabalhos deram enfoque à tecnologia e ao seu impacto (através de efeitos como a sobrecarga de informação). Mais tarde centrou-se em examinar as reacçoes da sociedade e as mudanças que esta sofre. Os seus últimos trabalhos têm abordado o estudo do poder crescente do armamento militar do século XXI, as armas e a proliferação da tecnologia e o capitalismo. Está casado com Heidi Toffler, igualmente uma escritora futurista, com quem reparte esta apresentação.

Segundo o PISA 2006 os alunos portugueses de 15 anos são dos que mais valorizam a importância do conhecimento científico. Em toda a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), são mesmo os que mais desejam seguir uma carreira nesta área, apesar de apenas dominarem as competências mais simples. A maioria acredita que o seu desempenho é bom e que aprendem rapidamente o que é ensinado nas aulas, demonstrando uma atitude bem mais confiante do que os seus colegas finlandeses, que lideram o ranking. Mas na hora de mostrar as suas competências, só três países se saem pior - Grécia, Turquia e México.
Com o facilitismo que graça no nosso sistema educativo não estaremos a estragar toda uma geração?

Reacção do Governo à manifestação dos professores



Num país onde a inteligência é um capital inútil e onde o único capital deveras produtivo é a falta de vergonha e de escrúpulos, o diagnóstico impõe-se per se” (Manuel Laranjeira, 1908). in DE RERUM NATURA


Este cavalheiro, que desvaloriza a presença de 100.000 professores nas ruas é o mesmo individuo que quase perdeu o mandato na Câmara de Penamacor, em 7 de Dezembro de 2007, por excesso de faltas injustificadas, o que só não aconteceu porque o assunto ficou resolvido pela promulgação de uma nova lei.
Facto que, pelos vistos, não afectou significativamente a sua avaliação, que seguramente deve ter sido excelente, pois progrediu na carreira (e de que maneira), sendo hoje Secretário de Estado da Educação.
Não deveríamos nós, cidadãos, que com os nossos impostos sustentamos o sistema, exigir também uma avaliação séria e exigente para indivíduos como este, que tão empenhadamente defendem, para os outros, regras que eles próprios se inibem de cumprir.
Recordo que na proposta inicial por ele defendida, 9 faltas, mesmo que devidamente justificadas pela lei, (doença, gravidez, etc...) impediriam a progressão na carreira.

Para reflectir!!!!!

segunda-feira, março 17, 2008

Professorzecos

O incrível sucedeu.

Segundo o "Público", durante uma reunião entre o grupo parlamentar do PS e os ministros em exercicio, a ministra da educação foi confrontada com as dúvidas de alguns deputados que a questionaram sobre as suas políticas de educação. Confrontada com essas dúvidas o que faz a ministra... Responde? Não... Acusa antes os deputados de ao colocarem dúvidas estarem a dar voz aos 'professorezecos'... Assim mesmo, os 'professorzecos'.
Esta notícia foi publicada no Público, mas, por alguma razão, passou praticamente despercebida:

Ver noticia: http://educar.files.wordpress.com/2008/01/ps.jpg

sábado, março 08, 2008

O Insucesso do Sistema Educativo

Ao longo dos anos, muito se tem escrito e debatido sobre as causas do insucesso do sistema de ensino português. Hoje, decidi fazer um súmula do muito que tenho ouvido e lido sobre o tema. As causas que aponto são ideias que corroboro e que na minha opinião, nos levam, década após década, a ocupar níveis muito modestos de eficácia no Sistema de Ensino.
Desde já reconheço que um exercício deste género é obviamente bastante controverso e necessariamente incompleto, como tal, afianço-vos que o objecto não vai além de procurar fomentar o debate colocando sobre na mesa alguns argumentos, deixando à consciência pessoal de cada leitor a apreciação deste mero exercício intelectual.
Apresento de seguida algumas causas que procurei arrumar segundo os seus agentes, de modo a facilitar a leitura:

A Sociedade
- Hoje a sociedade assenta num conjunto de valores que dificultam o papel da escola, desencorajam o estudo e promovem o insucesso escolar. A cultura da diversão, do consumismo e do individualismo, que a sociedade actual venera e que apresenta como expoentes cantores, jogadores, etc… são excessivamente opostos aos valores que a escola busca transmitir, nomeadamente a procura incessante do saber, de valores inextinguíveis e de atitudes ponderadas e justificadas. Talvez por isso, ouçamos com alguma frequência os alunos questionarem-se sobre a utilidade do ensino.

O Sistema Educativo
- A elevada centralização do sistema de educativo, que reduz a capacidade de resposta, adaptação e articulação dos diversos agentes, nesse sentido considero positivas as adaptações regionais que se têm efectuado, pois essa centralização fomenta a irresponsabilidade e a burocracia, ao nível dos estabelecimentos de ensino. A morosidade dos processos e a responsabilidade das falhas são sempre atribuídas a alguém que está longe e que muitas vezes desconhecemos a identidade.
- Ofertas formativas pouco diversificadas e muitas vezes desarticuladas das necessidades do mercado de trabalho. Muitas vezes (maioritariamente) os alunos, embora completem o seu percurso escolar, apresentam monumentais dificuldades na sua transição para a vida activa, devido ao desajustamento de competências exigidas. Esse ajustamento é frequentemente realizado no seio das empresas, por formação específica ou por assimilação com a experiência do quotidiano, com claros prejuízos para os empregadores.

Os Currículos
– Desadequação dos conteúdos curriculares ao contexto local ou regional do aluno. Por exemplo, um aluno da Madeira estuda a agricultura do Alentejo, do Minho ou do Ribatejo, mas termina a escolaridade sem conhecer a agricultura da Madeira que, apesar de ser diferente das que estudou, não é contemplada pelos ditames do Ministério. Situação que leva ao desinteresse pelos conteúdos abordados. Deveria considerar-se a efectiva adopção de um estilo de ensino mais estimulante para os alunos, aplicando a matéria estudada em situações reais do quotidiano, logo mais próximas e significativas.
-Desajustamento do currículo escolares dos alunos. Muitas vezes os alunos iniciam um novo ciclo sem que possuam os pré-requisitos necessários. Por exemplo é incompreensível que um aluno ingresse no 2º Ciclo sem saber correctamente ler, escrever e resolver cálculos matemáticos simples. Porém esta é uma queixa frequente dos professores que leccionam neste ciclo e que se encontra plasmada em muitos relatórios de avaliação.
- A extensão dos Currículos e a necessidade de cumpri-los escrupulosamente é um entrave à aplicação de metodologias mais activas e centralizadas no aluno, mas sobretudo retira tempo ao professor para ultrapassar as dificuldades individuais de aprendizagem que constata nos alunos.
- Repetição de conteúdos em várias disciplinas e anos lectivos. Muitos conteúdos repetidos, de forma diferente e com terminologias diferenciadas, ao longo dos anos e das disciplinas, levando-os a desinteressarem-se pelas matérias, e a sentirem-se confusos.
- As elevadas cargas horárias semanais e o número excessivo de disciplinas e actividades lectivas, leva a que os alunos disponham de pouco tempo para outras actividades de afirmação da sua individualidade, desenvolvimento de hábitos de convivência, participação em acções colectivas em prol da comunidade. Assim os estabelecimentos de ensino transformam-se em escolas-prisão, onde os alunos permanecem por obrigação e não por interesse.
Os Professores
- Deficiências na formação inicial de professores, muitas vezes desadequada da realidade das escolas, leva a inúmeras dificuldades no normal desenvolvimento do processo de ensino/aprendizagem. Tal como no mercado de trabalho em geral, muitas das competências para o desenvolvimento da função docente são desenvolvidas em pleno contexto de trabalho.
- Elevado número de professores sem formação inicial vocacionada para o ensino. Durante muitos anos o ensino foi o “refugio” de muitos profissionais de outras áreas que não encontravam colocação no mercado de trabalho. Ainda hoje, os quadros (de escola e de zona pedagógica) estão repletos de professores nestas circunstâncias. Profissionais cuja formação pedagógica lhes foi conferida por antiguidade e pequenas formações complementares, muitas vezes de utilidade duvidosa. O mais grave é que esta situação continua a acontecer pelo menos com os professores de informática.
- Utilização de métodos de ensino, recursos didácticos, técnicas de comunicação inadequadas às características da turma ou de cada aluno, fazem parte igualmente de um vasto leque de causas que podem conduzir a uma deficiente relação pedagógica e influenciar negativamente os resultados. Num sector como este, a formação continua deve ser encarada com a maior importância, pois trata-se de um área em permanente mutação. É normal o mesmo profissional ser professor de várias gerações de alunos, com todas as transformações que isso implica, logo terá continuamente de saber adaptar-se aos novos tempos, teorias, métodos, critérios, etc…
- A gestão da disciplina na sala de aula, é outro factor que condiciona bastante o rendimento escolar dos alunos. Contudo hoje é frequente ouvir os professores questionarem-se sobre quais os meios à sua disposição para impor a disciplina, pois os sucessivos governos têm vindo a amputar os docentes dos mecanismos para esse efeito.
- O preconceito dos professores relativamente à avaliação, que quase por sistema apresenta um padrão que tende a coincidir com uma curva normal, em que apenas alguns alunos são bons, a maioria são médios, e proporcionalmente ao número dos primeiros, existem uns quantos que são mesmo maus. A avaliação deve ser o mais objectiva possivel e esta visão deve ser eliminada. Embora considere que, neste aspecto, têm vindo a ser dados passos positivos, através da utilização de critérios cada vez mais objectivos e quantificativos que posicionam “quase automaticamente” o aluno num determinado nível.
- A avaliação, conforme demonstram inúmeros estudos nunca é absoluta, pelo contrário varia em função de uma multiplicidade de factores. As modas pedagógicas, o contexto escolar, os métodos de avaliação, as disciplinas, os professores, os critérios utilizados, o modo como estes são interpretados, etc. Em suma, as constantes alterações da avaliação e a sua subjectividade dá também um forte contributo para o insucesso escolar, na medida em que os alunos muitas vezes não compreendem a sua coerência.
Os Alunos
-A instabilidade característica da adolescência, consta entre as muitas causas individuais do insucesso. Ela conduz muitas vezes o aluno a rejeitar a escola, a desinvestir no estudo das matérias, e frequentemente à indisciplina.
- A maioria dos alunos não está habituado a produzir conhecimento, mas apenas a memorizar o que lhe é transmitido. Se a escola pretende criar indivíduos capazes de compreender o mundo para poder nele intervir, deve estimulá-las não só a assimilar conhecimentos mas a criar novos. Neste sentido, um dos grandes desafios consiste em combinar memorização e raciocínio, pois produção e assimilação de conhecimento são inseparáveis na construção do saber integrado.

As Famílias
[Nota prévia: Quando muitas vezes neste Blog considerei existir, na nossa sociedade, um enorme equivoco no que se refere aos conceitos de Educação e Ensino (funções correntemente atribuídos à instituição escolar) é porque considero que em primeira instancia o dever de educar cabe à família, à qual a escola deve auxiliar. À escola compete, em primeiro lugar o dever de ensinar, instruir, transmitir conhecimentos, competências e os valores socialmente reconhecidos e por essa via participar na educação dos nossos jovens.]
- A demissão dos pais da educação dos filhos. Hoje, as actividades profissionais e as tarefas do dia-a-dia ocupam de tal forma os pais, que estes pouco tempo dedicam à educação dos seus filhos. Maioritariamente limitam-se a deslocar-se à escola pontualmente e raramente para colaborar. A escola transformou-se num prestador de serviços ao qual tudo se exige com o mínimo de incómodos possível.
- A violência domestica, os conflitos conjugais, o abandono ou a falta de atenção por parte dos pais, entre outros problemas familiares, derivam frequentemente em sintomas de rejeição que levam a que o aluno se sinta enjeitado pela sociedade, o que contribui para o desinteresse face à escola e para a indisciplina, o que acarreta consequências inevitáveis no seu sucesso escolar.
-Por fim, talvez uma das causas mais utilizadas para justificar o insucesso escolar no nosso país, a origem social dos alunos. Como refere Carlos Fontes, os sociólogos construíram a partir desta relação causa-efeito uma verdadeira panóplia de determinantes sociais que permitem explicar quase tudo:
a) Nas famílias desfavorecidas, por exemplo, os pais tendem a ser mais autoritários, desenvolvendo nos filhos normas rígidas de obediência sem discussão. Ora, quando estes chegam á adolescência revelam-se pior preparados para enfrentarem as crises de afirmação da sua independência. A sua instabilidade emocional torna-se mais profunda, traduzindo a ausência de modelos e valores estáveis, levando-os a desinvestir na escola. Os alunos oriundos destas famílias raramente são motivados pelos pais para prosseguirem os seus estudos; pelo contrário, ao mais pequeno insucesso, estes colocam logo a questão da saída da escola, o que explica as mais elevadas taxas de abandono por parte destes alunos;
b) A linguagem que estes alunos são obrigados a utilizar nos níveis mais elevados de ensino, é progressivamente mais afastada da que utilizavam no seu meio familiar, aumentando-lhes progressivamente as dificuldades de compreensão e integração, levando-os a desinteressarem-se pela escola. Para prosseguirem nos estudos são "obrigados" a renunciar à linguagem utilizada no seio familiar.
c) Os valores culturais destas famílias são, segundo alguns sociólogos, opostos aos que a escola propõe e supõe (mérito individual, espírito de competição, etc). Perante este confronto de valores, os alunos que são oriundos destas famílias estão pior preparados para os partilharem. Nesta linha de ideias, Holligshead, afirmou que os mais desfavorecidos norteam-se por objectivos a curto prazo (o presente), o que estaria em contradição com os objectivos visados pela educação (a longo prazo). Esta diferença de objectivos (e valores) acaba por os conduzir a um menor investimento escolar.
e) Muitas vezes estas são também famílias com reduzidos níveis de instrução o que origina a improficiência dos pais para apoiarem os filhos nas tarefas escolares, deixando-os entregues a si mesmos e à sua capacidade individual para ultrapassar as várias etapas, o que frequentemente resulta em abandono.

quinta-feira, março 06, 2008

Estatuto da Carreira Docente

Madeira Vs Continente

Principais Polémicas:

ECD - Continente

- Deixa de existir uma carreira única, sendo criada a categoria de professor titular acessível por concurso (com vagas limitadas por quotas);
- Institui exames de acesso à profissão, onde os candidatos a professores terão de obter um mínimo de 14 valores;
- Institui a avaliação dos professores pelos próprios, pelos encarregados de educação, colegas e alunos, estabelecendo ainda uma ligação entre o desempenho dos professores e o dos alunos;
- Progressão na carreira dependente da avaliação e de quotas definidas pelo ministério, para atribuição da menção qualitativa de Muito Bom ou Excelente (necessárias para uma progressão mais rápida na carreira);

ECD – Madeira (ainda não regulamentado)

- Carreira única dividida em 8 escalões, sem categoria de professor titular, mas com um exame de acesso (a definir) ao 6º escalão;
- Ausência de exame de acesso à profissão;
- Avaliação dos professores (por regulamentar), no entanto o ECD-Madeira refere , que os “…docentes dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário” serão avaliados “…por um titular do órgão de administração e gestão e pelo respectivo delegado de disciplina ou professor do quadro de nomeação definitiva, preferencialmente com maior antiguidade na carreira, que por ele for designado, quando o número de docentes a avaliar o justifique;” (o exemplo aplica-se apenas aos professores do 2º e 3º ciclos do ensino básico e do ensino secundário)
- A progressão na carreira depende da obtenção mínima da menção qualitativa de Bom;

Sintese do Prós e Contras - Educação

Com a devida vénia ao SPM (Sindicato dos Professores da Madeira)

Protesto

De Norte a Sul exige-se demissão da ministra

Avaliação dos Professores

Numa altura em que tanto se fala da avaliação dos professores a nível nacional e atendendo a que esse aspecto ainda não se encontra regulamentado para o Estatuto da Carreira Docente da Região, considero interessante a leitura deste artigo de opinião publicado em 29 de Fevereiro de 2008 na revista VISÃO:
“Independentemente do mérito ou do demérito das políticas educativas do Executivo Sócrates, plasmadas em diplomas legais como os que regulam a carreira docente, a avaliação de desempenho e a gestão escolar, entre outros, uma coisa salta à vista: a ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues pôs a carroça à frente dos bois.
Com efeito, sem bons professores não há sistema de ensino que funcione a contento. Por isso, a prioridade do Governo devia ser (ou ter sido) a de criar condições para uma adequada preparação dos professores, visando a boa execução das suas importantíssimas, delicadas e múltiplas tarefas, de cujo êxito ou inêxito depende o futuro do País.
Numa entrevista que me concedeu em 2002, a propósito da publicação do seu livro As Políticas de Educação em Discurso Directo, António Teodoro, especialista em Ciências da Educação, já dizia que a escola está a responder mal aos problemas levantados pela massificação, o principal dos quais, em sua opinião, reside na diversidade cultural. «A escola», afirmou ele, então, «foi criada para uniformizar, de acordo com os padrões do Estado-Nação. Em primeiro lugar, a língua: na escola portuguesa, não se permitia a ninguém que se exprimisse, por exemplo, em mirandês, ainda que essa fosse a sua língua materna; em segundo lugar, os hábitos culturais, impondo-se às crianças do campo uma cultura urbana, ou seja, tomando-se como modelo o aluno da classe dominante, a que os americanos chamam WASP (White, Anglo-Saxon, Portestant) e que nós, por analogia, poderíamos denominar BLC (Branco, Luso, Católico). O que se pedia aos professores era, pois, que ensinassem muitos como se fossem um só. Agora, pede-se-lhes que tenham em conta as diversidades culturais, que as respeitem e as ponham a dialogar. Mas eles não estão ainda preparados para essa grande alteração do paradigma escolar.»
Não surpreende que assim seja. Na perspectiva da História da Educação, foi muito rápida a transformação das populações escolares, antes homogéneas, em multidões de variadas origens não apenas culturais mas também étnicas e sócio-económicas, num contexto «de mudança de valores, em que o dinheiro e o lazer estão a ganhar peso, em prejuízo do conhecimento e da leitura, e instituições de socialização, como a Igreja e a família, se confrontam com uma profunda crise», conforme nota António Teodoro, naquela entrevista. O professor tornou-se, na verdade, uma espécie de «criada para todo o serviço» Além de ensinar, tem de ser pai ou mãe, psicólogo, assistente social, polícia. Isto é, atribuem-se à escola mais e mais responsabilidades, nas quais se diluem as funções docentes. «Quando se acumulam muitas e diversas competências, perde-se a noção de qual é a principal», concluiu António Teodoro.
Uma grande trapalhada
Neste contexto, impõe-se perguntar: Que modelos de formação profissional (estágio) tiveram os professores actualmente em exercício? Que componentes científicas, sociológicas e pedagógicas fazem parte desses modelos? Quem deu aos docentes formação profissional tinha para tal a preparação necessária, ou seja, era professor profissionalizado?
Além de se encontrarem em vigor numerosos modelos de formação, com conteúdos variados, num quadro de grande confusão, muitos formadores, nomeadamente os docentes universitários que dirigem e orientam os estágios integrados, não receberam formação profissional.
Nos últimos 34 anos, nunca, aliás, a preparação para a docência dos candidatos a professores constituiu a principal preocupação do legislador - ou seguiu a reboque das alterações introduzidas por decreto-lei no sistema educativo ou, pura e simplesmente, não foi contemplada pela legislação, o que consentiu que entrassem para a profissão docentes sem preparação profissional. Isto é: os governos que, naquele período, se sucederam no poder foram alterando, em certos casos profundamente e sempre por decreto, as práticas, sem cuidarem de preparar os professores para as mudanças exigidas pelos novos normativos.
Alguns exemplos ilustram o caos que se instalou no sector da formação:
- o Decreto-Lei 43/89, de 3 de Fevereiro, instituiu, nas escolas, a metodologia de projecto (Projecto Educativo de Escola);
- segundo o Decreto-Lei 269/89, de 29 de Agosto, a Área Escola é desenvolvida de acordo com a metodologia de projecto;
- desde que o Decreto-Lei 269/89 foi revogado na sua aplicação ao Ensino Básico pelo Decreto-Lei 06/01, de 18 de Janeiro, que o Projecto Curricular de Escola , o Projecto Curricular de Turma e a Área de Projecto se institucionalizaram;
- depois, por força do Decreto-Lei 74/04 de 26 de Março , o Decreto-Lei 269/89 deixou de se aplicar igualmente ao Ensino Secundário, passando a Área de Projecto a ser uma disciplina do 12.°ano.
Quem consegue entender-se, no meio desta teia de esquemas normativos acerca dos quais raros são os professores que estão convenientemente informados para poderem actuar tanto a nível da gestão curricular em projecto como no campo da gestão de sala de aula?
Finalmente, para não irmos mais longe, o Decreto-Lei 06/01 relançou uma série de disciplinas curriculares não disciplinares que qualquer professor pode ser chamado a leccionar – Área de Projecto (AP), Estudo Acompanhado (EA) e Formação Cívica (FC). De onde se induz que os professores, por exemplo, de Inglês e de Matemática têm de saber ensinar, não apenas Inglês e Matemática, mas também AP, EA e FC. Só que não tiveram, para isso, formação profissional apropriada.
Deste modo, à lista de tarefas que, na opinião de António Teodoro, os professores portugueses se vêem obrigados a desempenhar, temos de acrescentar, além da normal preparação académica para o ensino das disciplinas em que se especializaram, a constante acumulação de competências e saberes relativos, pelo menos, a
- metodologia de projecto;
- liderança e supervisão pedagógicas;
- ensinar os alunos a estudar;
- adaptar à escola o currículo e os programas nacionais;
Por quem e como são os professores preparados para tão complexa missão?
E, neste quadro, que justiça haverá na respectiva avaliação?"
Daniel Ricardo - In Revista Visão (29-02-2008)

domingo, março 02, 2008

Ser Professor -Uma visão na qual me revejo

"De acordo com o pensamento de Tomás (1987:265) “ser professor não é certamente um produto acabado, um estado final, mas será um permanente tornar-se professor, um processo evolutivo, ao longo do qual as experiências vão ganhando mais significado, o que geralmente se faz acompanhar de um maior envolvimento pessoal por parte do professor”.
Tendo em vista a construção de uma sociedade de todos, com todos e para todos, também nós assumimos este processo e nos empenhamos nele verdadeiramente.O futuro professor, vai-se formando ao longo de toda a vida. Adquire conhecimentos, princípios e valores que lhe são transmitidos pela família, pelo meio que o cerca, interiorizando-os na convivência com o “outro”.
Ser professor é uma arte e ao mesmo tempo um talento que precisa de ser completado com formação profissional”adequada”.
Não há um “modelo” de bom professor, mas uma grande quantidade de “modelos” de acordo com o estilo pessoal de cada um e do modo como interage com os alunos/meio.O melhor professor será o que tiver uma resposta pronta para a questão que preocupa o aluno naquele momento. Este deverá ter a habilidade, a arte de reconhecer a necessidade imediata do aluno.
Deverá ter o “conhecimento tácito”de que fala Michael Polanyi e que é espontâneo, intuitivo, experimental, quotidiano e que ajudará o professor a conhecer melhor o ser que lhe foi entregue.
A formação profissional deverá ser adquirida nas instituições próprias com os seus currículos e teorias. Estas, sem a prática, são manifestamente insuficientes e muitas vezes desfasadas da realidade.
É Sacristan (1990:64) que nos fala da postura profissional do professor como sendo “a afirmação do que é específico na acção docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor”.Também Postic (1990:11) define ser professor como “uma aptidão para estabelecer relação” e continua “esta aptidão não é uma disposição absoluta, atributo da personalidade; ela manifesta-se por uma qualidade do papel assumido pelo professor no processo relacional: as atitudes, as expectativas, os comportamentos dos alunos exercem uma acção sobre ele e a sua conduta orienta-se pela sua percepção na situação”.É na escola que a sociedade actual aposta para que o processo de socialização dos jovens se faça de uma forma adequada. Essa socialização ultrapassa em muito os próprios alunos e é conhecida como “algo que atravessa a escola em várias direcções” (Alves Pinto, 1995:113).
Os processos de socialização dos adultos que têm e assumem papéis específicos no processo educativo, como é o caso dos professores, enquadram-se nessas dimensões.Como afirma a mesma autora “ao professores vão viver socializações variadas ao longo do seu percurso profissional” (ibid., p.115) e também nós estamos conscientes da importância desses momentos e da sua contribuição para a construção pessoal e colectiva/ construção pessoal e profissional.
O papel do professor como agente da socialização tem sofrido relevantes modificações devido à transformação do contexto social, o que causou um aumento substancial das suas responsabilidades.
“Cada qual aprende ao longo de toda a vida no seio do espaço social constituído pela comunidade de pertença” (Delors, 1996:96).
FormaçãoA vida profissional do professor deve conjugar-se de forma a que a oportunidade, melhor, a obrigação de aperfeiçoar a sua “arte” seja uma constante que não poderá adiar, independentemente das valências profissionais que lhe estão adstritas e dos papéis que lhe estão consignados.
Deste modo, reconhecemos que o professor só poderá desempenhar de forma condigna a sua missão se tiver “tripla competência: no plano do conhecimento, no plano psicológico e no plano psicossociológico” Mialaret, 1991:76).
Formação inicial
A formação inicial há-de proporcionar a todos os educadores e professores de todos os níveis de ensino a informação, os métodos e as técnicas científicas e pedagógicas de base, assim como a formação pessoal e social adequadas ao exercício da sua função, segundo Patrício (1992).
Este tipo de formação tem as suas exigências e diferentes campos de competência, como seja, a científica, pedagógica e cultural. O futuro professor deverá ainda comprometer-se civicamente de forma empenhada e consciente.
Caberá às “Escolas de Formação Inicial” incutir no espírito do jovem professor uma atitude de permanente interrogação, reflexão e investigação, proporcionando-lhe a motivação necessária à aprendizagem “num contexto estimulante (livros, problem-solving, contactos sociais variados, debates, experiências práticas) … Desta forma, poderá o futuro mestre sentir a alegria de aprender, alegria que há-de querer transmitir aos seus alunos”Cunha, 1992:88).
Para que a escola se centre no aluno e na sua interacção com o professor é fundamental que as “Escolas de Formação Inicial” concedam, aos futuros mestres um vasto conhecimento nos campos do desenvolvimento intelectual, afectivo, social, …, da criança.Ao futuro professor deverá ser proporcionada uma atmosfera de individualização e liberdade para que possa assumir atitudes verdadeiramente democráticas e criativas.

Formação contínua
Para Patrício (1992) a formação contínua é um complemento e actualização da formação inicial, numa perspectiva de formação permanente, fazendo tónica em que o professor é um homem de cultura.
Na cultura deverão integrar-se todas as formas e níveis de conhecimento humano e o professor como “homem de cultura” terá uma “consciência integrada”, isto é, todas as componentes de formação dirigir-se-ão para um saber unificado e dador de sentido à vida. Para todos os que pertencem à área de educação a formação contínua é a garantia de uma actualização permanente e necessária. A sua não concretização impedirá que as escolas possam encontraras respostas adequadas à evolução que a sociedade espera delas.

A auto-formação
Devido ao isolamento a que o professor é muitas vezes votado (e não é só no campo geográfico, mas também no campo social) e a um a deficiente organização de uma formação contínua adequada às suas necessidades, este vê-se muitas vezes obrigado a uma formação centrada na reflexão “auto e heterobiográfica” Vilar,1993:54). Este tipo de formação foi/é o “alimento” para muitos profissionais da educação que ultrapassaram e continuam a ultrapassar o isolamento que as circunstâncias lhe impuseram.O autodidacta reconhece que não sabe tudo e vai realizando aprendizagens contínuas consigo mesmo, com os outros, e, sobretudo, com os seus alunos. A educação e a formação foram sempre o cerne do desenvolvimento dos indivíduos e, em consequência das sociedades. Neste processo a acção do professor é fundamental, pois todas as expectativas estão postas nele. Para que a mudança e o desenvolvimento da sociedade se processe é prioritário que “nenhuma mudança organizacional significativa pode ser realizada, se não se efectuarem profundas alterações na forma de pensar, agir e interagir das pessoas” Senge cit. Nóvoa (1992).

Docência e qualidade
A nossa experiência diz-nos que, ligado à prática de bios profissionais se encontra uma certa “competência artística”. Embora não seja no sentido de produção de uma obra de arte, mas no sentido de um profissionalismo eficiente, de um saber-fazer (know-how, como diria Shön) que fica muito perto da sensibilidade artística.
A sua acção no indeterminado só é possível devido a essa competência, a esse talento, e que tem por base um conhecimento tácito que, muitas vezes, não é capaz de descrever, mas que está lá, ainda que não tenha sido pensado com anterioridade.É esse conhecimento que será complemento das competências adquiridas no campo das ciências, das técnicas, … que, por sua vez, ganhará nova força no seu emprego em novas acções educativas, representadas também elas, em novas aquisições cognitivas, afectivas, emocionais, psicomotoras.
Apenas com uma reflexão profunda e sentida o professor consegue um contínuo enriquecimento que o ajudará a superar problemas novos e, ainda, a encontrar soluções novas.Esta actuação faz surgir o novo conceito de professor, cujas características principais são as de um sujeito activo, um agente reflexivo, um clínico, um ser que emite juízos de valor, que tem crenças, que orienta o seu pensamento, em função de si próprio e das rotinas que constrói ao longo da sua vida profissional. O professor é considerado um agente de mudança, embora se reconheça que nem tudo é tão simples como pode parecer à primeira vista. Muitas vezes geram-se situações de conflito entre os «educandos» e os princípios defendidos pela escola enquanto instituição.Por esta razão se defende a existência de uma «comunidade educativa» com o fim de que todos sejam verdadeiramente implicados no processo educativo versus processo mudança.Só na transferência de vivências, na partilha de competências, nesta abertura à mudança de mentalidades será possível dar resposta aos múltiplos desafios que nos são propostos/exigidos pela sociedade dos nossos dias.


– Conclusão
É urgente inverter a marcha da educação e do ensino e sensibilizar para esse facto a opinião pública. O ensino deve centrar-se no aluno, ter objectivos claros, mobilizar conteúdos, desenvolver competências, atender aos processos e obter resultados.A educação não pode depender das mudanças de governo, deve ter continuidade. Não pode ser uma guerra de poder. Quando o ensino/educação está ou é fragilizado, a própria nação fica em risco. Como diria o psicólogo Daniel Sampaio “inventem-se novas escolas” e deixem trabalhar os professores."

Ser Professor

Ser professor é ser artista
malabarista,
pintor, escultor, doutor,
musicólogo, psicólogo...
É ser mãe, pai, irmã, avó,
é ser palhaço, bagaço...
É ser ciência e paciência...
É ser informação.
É ser acção,é ser bússola, é ser farol.
É ser luz, é ser sol.
Incompreendido? ...Muito.
Defendido? Nunca.
O seu filho passou?...
Claro, é um génio.
Não passou?
O professor não ensinou.
Ser professor
é um vício ou vocação?
É outra coisa...
É ter nas mãos o mundo de amanhã.
Amanhã.
Os alunos vão-se...
E ele, o mestre, de mãos vazias,
fica com o coração partido.
Recebe nova turmas,
novos olhinhos ávidos de cultura
e ele, o professor, vai despejando
com toda a ternura, o saber, a orientação
nas cabecinhas novas que amanhã
luzirão no firmamento da pátria
Fica a saudade
A amizade.
O pagamento real?
Só na eternidade.

Anónimo - in http://sol.sapo.pt/

Ao ponto a que isto chegou!!!

“Docentes querem seguro contra danos físicos e morais.

O presidente do Sindicato Democrático dos Professores da Madeira defende a criação de um seguro contra danos físicos e morais para fazer face a agressões que eventualmente possam ser protagonizadas por alunos.
O Sindicato Democrático dos Professores da Madeira (SDPM) defende que deve ser criado um seguro contra os danos físicos e morais a que os docentes estão, por vezes sujeitos. Este desejo, que já foi formalizado enquanto proposta, foi manifestado ao JM pelo dirigente do referido organismo sindical, quando confrontado com o recente caso de agressão a que foi sujeita uma professora da Escola dos 2.º e 3.º Ciclos do Estreito de Câmara de Lobos. Ainda que reconheça que a realidade das escolas da Região esteja muito longe daquela registada no Continente, Jaime Freitas refere que «há muitos exageros», os quais muitas vezes começam entre os próprios alunos e, depois, nalguns casos acabam por chegar aos professores e mesmo aos funcionários dos estabelecimentos de ensino."
Jornal da Madeira 12-02-2008

Ser Professor hoje (Uma visão jornalística)


"Má fama dos professores promove indisciplina
A desconsideração do governo colocou em causa a autoridade dos professores

Rapaz, no início da adolescência e com um historial de retenções. Este é o perfil do estudante que obriga a reuniões do conselho de turma e a períodos de suspensão. Os directores das escolas de 2º e 3º ciclo conhecem o padrão, mas sabem que muita indisciplina vem de casa e da desconsideração do Governo para com os professores. A má publicidade do Ministério da Educação, a ideia feita de a classe não quer trabalhar deu força a uma geração de pais que sentou os filhos num trono. As más notas são incompetência de quem ensina e não preguiça de quem não estuda; a indisciplina é sempre com os filhos dos outros. Gualberto Soares, director da Bartolomeu Perestrelo, tem na mão os gráficos das suspensões e repreensões aplicadas aos alunos nos últimos dois anos. Lá estão os miúdos de 12 e 13 anos, do 5º e 6º ano, o tempo que estiveram suspensos e o mau comportamento que mereceu registo na caderneta. Nas quatro suspensões do 1º período, três foram para rapazes, embora a mais grave tenha sido aplicada a uma rapariga do 8º ano. A aluna - que tinha um problema de droga - já estava fora da escolaridade e, por isso, acabou por deixar a escola. "Não sabemos o que lhe aconteceu depois", lamenta o director. Não gosta de resumir os problemas a números e sabe que cada caso encerra um drama pessoal. "Há pouco tempo descobrimos que um aluno roubava os colegas para comer. Não seria justo aplicar uma repreensão a um miúdo que não tinha o que comer em casa, é bem comportado e aplicado. A escola optou por reforçar a Acção Social do aluno". A direcção abriu uma excepção, mas tem por lema aplicar sanções a quem pisa o risco. Seja por furto, por partidas aos colegas ou prejuízos no património da escola. Apesar da resistência dos encarregados de educação, é lema da Bartolomeu Perestrelo que quem faz paga. "Tivemos aqui um problema com um aluno que, por brincadeira, partiu o dente de outro ao empurrá-lo quando estava no bebedouro do recreio. O pior é que, tanto numa família como noutra, há dificuldades financeiras". O assunto resolveu-se, mas, por norma, os pais não aceitam o mau comportamento, nem as más notas. "O mais comum é responsabilizar o professor pela má avaliação. Quanto ao comportamento, a primeira coisa que dizem é que 'o meu filho não faz isso em casa', logo também não pode fazer na escola". Para Gualberto Soares, que até já foi vereador do PS, esta suspeita, esta ideia de que os professores são imcompetentes e mandriões é a consequência directa da má publicidade que o Governo de José Sócrates fez da classe. "As últimas alterações legais ao estatuto não ajudaram a reforçar a autoridade dentro das salas de aulas". Isabel Cardoso e Mónica Vieira, dirigentes do Sindicato dos Professores da Madeira, não gostam de responsabilizar os alunos. "Os miúdos são o reflexo da nossa sociedade, da vida que têm e da educação que recebem dos pais". Se em casa ouvem que os professores que são pouco esclarecidos e mal preparados, é natural que reproduzam essas ideias e questionem tudo o que faz o professor. "Já dei aulas numa escola de 1º ciclo em que os miúdos brincavam às lutas e acabavam o recreio com feridas e nódoas negras. Era o que viam nos jogos de computador e na televisão". Se é assim com a violência, explica Mónica Vieira, também é o com a imagem dos docentes. "A indisciplina não é nova", sublinha Isabel Cardoso. "Faz parte do processo de crescimento. O que é perturbador é a desautorização dentro da sala de aulas".
Consoante a idade:
No 1º ciclo, a indisciplina fica nos recreios entre os rapazes. As raparigas gerem as intrigas e os grupinhos. Os problemas de comportamento explodem no 2º ciclo. Agressivos para colegas e professores, o início da adolescência explica parte do fenómeno. A indisciplina tende a refinar-se com a idade e, no 3º ciclo, os alunos começam a desafiar a autoridade intelectual do professor. No secundário, este desafio roça, por vezes, a desconsideração e, os indisciplinados, são arrogantes e cheios de confiança.
Perfil do indisciplinado:
Rapaz entre 12 e os 14 anos
Aluno do 2º ciclo
Historial de retenções
Maior incidência no 2º período
Turmas da manhã com mais indisciplina verbal, tendência para humilhar colegas e desafiar professores.
Turmas da tarde mais dadas à violência física, a resolver conflitos com agressões. Maior incidência de furtos.
Indisciplina com professores:
Insultos
Ameaças e agressão física
Vandalismo contra o carro
Sanções contra a indisciplina:
Suspensão
Repreensão na caderneta
Trabalho para a comunidade."
Marta Caires in Díário de Noticias (02-03-2008)

sábado, março 01, 2008

Muitas vezes o humor é a melhor forma de caracterização

in youtube: http://br.youtube.com/watch?v=iqBoTKh9DB0

Organização Empreendedora, Dinâmica e Motivadora

A escola é cada vez mais afectada, inevitavelmente, pelos avanços da tecnologia e por uma concorrência, cada vez mais feroz, com outras formas de disponibilização da informação. Esta realidade exige hoje da escola uma maior abertura à inovação e à criação de dinâmicas intrínsecas, baseadas na inovação, no empreendedorismo e na motivação, mas também, na flexibilização e na abertura ao exterior.
Directores e professores devem estar cada vez mais preparados para inovar e para aceitar, analisar e testar novas ideias, que visem solucionar os problemas da escola, identificando claramente os problemas e procurando solucionámos, mas também evitando o imobilismo e a repetição de experiências comprovadamente pouco eficazes. Em suma, procurar sempre uma nova solução para os velhos ou novos problemas.
Outro factor fundamental da aprendizagem é a motivação (de alunos e professores). Desconhecer os objectivos por que se trabalha leva à desmotivação generalizada e desmotivado, ninguém cria coisas novas e muitas vezes nem sequer cumpre devidamente as suas obrigações. Como tal, dar a conhecer o projecto educativo, os objectivos, as metas e a importância de cada um dos actores escolares nesse projecto afigura-se essencial, bem como, dar condições para que todos desenvolvam o seu papel na escola e simultaneamente, atribuir a cada um a devida responsabilidade no desenvolvimento do projecto educativo.
Cada um dos intervenientes deve ter autonomia para fazer a sua parte, solucionar problemas e criar novas soluções para pequenas questões sem solicitar, sistematicamente, autorização aos superiores hierárquicos que devem potenciar sinergias, estimular a troca de experiências entre os vários actores, dando a conhecer o que os outros fazem e as soluções encontradas.
Um bom ponto de partida talvez seja cada um ajudar a motivar a instituição escolar fazendo o que deseja que os alunos ou colegas façam. Assim, podemos dar o primeiro passo contra a visão de “só ir para a escola para trabalhar”, podemos ir para a escola para participar num projecto.
Porém, para que a motivação exista nas escolas é necessário que os programas sejam próximos da realidade vivenciada pelos alunos e com temas agradáveis. Porém, apesar da Lei de Bases do Sistema Educativo indicar uma política de descentralização e de autonomia das escolas (artigo 3º Alínea g), continua a exigir-se um excessivo apego ao cumprimento dos programas e currículos oficiais, dando pouco espaço à autonomia e flexibilidade das escolas, que são confrontadas com exames de carácter nacional e ranking’s baseados em exames de formato único para todo o país. Hoje as nossas escolas quase não ensinam as pessoas a encontrar os seus talentos ou a compreender o meio onde se inserem, ensinam fundamentalmente a decorar um currículo. Como refere Antunes (2001, p.89), "a escola constitui-se como uma “torre de marfim, distante, isolada, obcecada pelo cumprimento dos programas e pelo ensino dos conteúdos científicos, e desatenta relativamente à aquisição de competências para os compreender e aplicar, porque está totalmente alheada e praticamente incomunicável com a comunidade em que se insere".
Embora considere os conteúdos curriculares essenciais, vejo que a escola pode ir mais além, ajudando o aluno a conhecer-se e a conhecer o mundo onde se insere, procurando adequar o currículo ao meio envolvente e as suas especificidades naturais, sociais e económicas. Na minha opinião, muito pessoal, talvez este seja um dos aspectos onde as escolas da região tenham dado passos mais significativos no sentido de aproximar o Ensino a uma efectiva Educação (“processo que visa o desenvolvimento harmónico do ser humano nos seus aspectos intelectual, moral e físico e a sua inserção na sociedade”)In Dicionário da Língua Portuguesa – Porto Editora.
A título de exemplo, refiro a implementação da escola a tempo inteiro, já em funcionamento a alguns anos na RAM, que veio alargar os espaços e tempos para a criatividade dos alunos. Mas também, o esforço de adequação dos conteúdos de algumas disciplinas à realidade regional, potenciando uma aprendizagem mais envolvente e geradora de significado para os alunos e não simplesmente de memorização.
Obviamente muito ficou ainda por referir, na complexa teia organizacional das nossas escolas porém aqui fica mais um registo desta minha visão, muitas vezes otópica, do que pode ser um ensino de qualidade.