domingo, março 02, 2008

Ser Professor -Uma visão na qual me revejo

"De acordo com o pensamento de Tomás (1987:265) “ser professor não é certamente um produto acabado, um estado final, mas será um permanente tornar-se professor, um processo evolutivo, ao longo do qual as experiências vão ganhando mais significado, o que geralmente se faz acompanhar de um maior envolvimento pessoal por parte do professor”.
Tendo em vista a construção de uma sociedade de todos, com todos e para todos, também nós assumimos este processo e nos empenhamos nele verdadeiramente.O futuro professor, vai-se formando ao longo de toda a vida. Adquire conhecimentos, princípios e valores que lhe são transmitidos pela família, pelo meio que o cerca, interiorizando-os na convivência com o “outro”.
Ser professor é uma arte e ao mesmo tempo um talento que precisa de ser completado com formação profissional”adequada”.
Não há um “modelo” de bom professor, mas uma grande quantidade de “modelos” de acordo com o estilo pessoal de cada um e do modo como interage com os alunos/meio.O melhor professor será o que tiver uma resposta pronta para a questão que preocupa o aluno naquele momento. Este deverá ter a habilidade, a arte de reconhecer a necessidade imediata do aluno.
Deverá ter o “conhecimento tácito”de que fala Michael Polanyi e que é espontâneo, intuitivo, experimental, quotidiano e que ajudará o professor a conhecer melhor o ser que lhe foi entregue.
A formação profissional deverá ser adquirida nas instituições próprias com os seus currículos e teorias. Estas, sem a prática, são manifestamente insuficientes e muitas vezes desfasadas da realidade.
É Sacristan (1990:64) que nos fala da postura profissional do professor como sendo “a afirmação do que é específico na acção docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor”.Também Postic (1990:11) define ser professor como “uma aptidão para estabelecer relação” e continua “esta aptidão não é uma disposição absoluta, atributo da personalidade; ela manifesta-se por uma qualidade do papel assumido pelo professor no processo relacional: as atitudes, as expectativas, os comportamentos dos alunos exercem uma acção sobre ele e a sua conduta orienta-se pela sua percepção na situação”.É na escola que a sociedade actual aposta para que o processo de socialização dos jovens se faça de uma forma adequada. Essa socialização ultrapassa em muito os próprios alunos e é conhecida como “algo que atravessa a escola em várias direcções” (Alves Pinto, 1995:113).
Os processos de socialização dos adultos que têm e assumem papéis específicos no processo educativo, como é o caso dos professores, enquadram-se nessas dimensões.Como afirma a mesma autora “ao professores vão viver socializações variadas ao longo do seu percurso profissional” (ibid., p.115) e também nós estamos conscientes da importância desses momentos e da sua contribuição para a construção pessoal e colectiva/ construção pessoal e profissional.
O papel do professor como agente da socialização tem sofrido relevantes modificações devido à transformação do contexto social, o que causou um aumento substancial das suas responsabilidades.
“Cada qual aprende ao longo de toda a vida no seio do espaço social constituído pela comunidade de pertença” (Delors, 1996:96).
FormaçãoA vida profissional do professor deve conjugar-se de forma a que a oportunidade, melhor, a obrigação de aperfeiçoar a sua “arte” seja uma constante que não poderá adiar, independentemente das valências profissionais que lhe estão adstritas e dos papéis que lhe estão consignados.
Deste modo, reconhecemos que o professor só poderá desempenhar de forma condigna a sua missão se tiver “tripla competência: no plano do conhecimento, no plano psicológico e no plano psicossociológico” Mialaret, 1991:76).
Formação inicial
A formação inicial há-de proporcionar a todos os educadores e professores de todos os níveis de ensino a informação, os métodos e as técnicas científicas e pedagógicas de base, assim como a formação pessoal e social adequadas ao exercício da sua função, segundo Patrício (1992).
Este tipo de formação tem as suas exigências e diferentes campos de competência, como seja, a científica, pedagógica e cultural. O futuro professor deverá ainda comprometer-se civicamente de forma empenhada e consciente.
Caberá às “Escolas de Formação Inicial” incutir no espírito do jovem professor uma atitude de permanente interrogação, reflexão e investigação, proporcionando-lhe a motivação necessária à aprendizagem “num contexto estimulante (livros, problem-solving, contactos sociais variados, debates, experiências práticas) … Desta forma, poderá o futuro mestre sentir a alegria de aprender, alegria que há-de querer transmitir aos seus alunos”Cunha, 1992:88).
Para que a escola se centre no aluno e na sua interacção com o professor é fundamental que as “Escolas de Formação Inicial” concedam, aos futuros mestres um vasto conhecimento nos campos do desenvolvimento intelectual, afectivo, social, …, da criança.Ao futuro professor deverá ser proporcionada uma atmosfera de individualização e liberdade para que possa assumir atitudes verdadeiramente democráticas e criativas.

Formação contínua
Para Patrício (1992) a formação contínua é um complemento e actualização da formação inicial, numa perspectiva de formação permanente, fazendo tónica em que o professor é um homem de cultura.
Na cultura deverão integrar-se todas as formas e níveis de conhecimento humano e o professor como “homem de cultura” terá uma “consciência integrada”, isto é, todas as componentes de formação dirigir-se-ão para um saber unificado e dador de sentido à vida. Para todos os que pertencem à área de educação a formação contínua é a garantia de uma actualização permanente e necessária. A sua não concretização impedirá que as escolas possam encontraras respostas adequadas à evolução que a sociedade espera delas.

A auto-formação
Devido ao isolamento a que o professor é muitas vezes votado (e não é só no campo geográfico, mas também no campo social) e a um a deficiente organização de uma formação contínua adequada às suas necessidades, este vê-se muitas vezes obrigado a uma formação centrada na reflexão “auto e heterobiográfica” Vilar,1993:54). Este tipo de formação foi/é o “alimento” para muitos profissionais da educação que ultrapassaram e continuam a ultrapassar o isolamento que as circunstâncias lhe impuseram.O autodidacta reconhece que não sabe tudo e vai realizando aprendizagens contínuas consigo mesmo, com os outros, e, sobretudo, com os seus alunos. A educação e a formação foram sempre o cerne do desenvolvimento dos indivíduos e, em consequência das sociedades. Neste processo a acção do professor é fundamental, pois todas as expectativas estão postas nele. Para que a mudança e o desenvolvimento da sociedade se processe é prioritário que “nenhuma mudança organizacional significativa pode ser realizada, se não se efectuarem profundas alterações na forma de pensar, agir e interagir das pessoas” Senge cit. Nóvoa (1992).

Docência e qualidade
A nossa experiência diz-nos que, ligado à prática de bios profissionais se encontra uma certa “competência artística”. Embora não seja no sentido de produção de uma obra de arte, mas no sentido de um profissionalismo eficiente, de um saber-fazer (know-how, como diria Shön) que fica muito perto da sensibilidade artística.
A sua acção no indeterminado só é possível devido a essa competência, a esse talento, e que tem por base um conhecimento tácito que, muitas vezes, não é capaz de descrever, mas que está lá, ainda que não tenha sido pensado com anterioridade.É esse conhecimento que será complemento das competências adquiridas no campo das ciências, das técnicas, … que, por sua vez, ganhará nova força no seu emprego em novas acções educativas, representadas também elas, em novas aquisições cognitivas, afectivas, emocionais, psicomotoras.
Apenas com uma reflexão profunda e sentida o professor consegue um contínuo enriquecimento que o ajudará a superar problemas novos e, ainda, a encontrar soluções novas.Esta actuação faz surgir o novo conceito de professor, cujas características principais são as de um sujeito activo, um agente reflexivo, um clínico, um ser que emite juízos de valor, que tem crenças, que orienta o seu pensamento, em função de si próprio e das rotinas que constrói ao longo da sua vida profissional. O professor é considerado um agente de mudança, embora se reconheça que nem tudo é tão simples como pode parecer à primeira vista. Muitas vezes geram-se situações de conflito entre os «educandos» e os princípios defendidos pela escola enquanto instituição.Por esta razão se defende a existência de uma «comunidade educativa» com o fim de que todos sejam verdadeiramente implicados no processo educativo versus processo mudança.Só na transferência de vivências, na partilha de competências, nesta abertura à mudança de mentalidades será possível dar resposta aos múltiplos desafios que nos são propostos/exigidos pela sociedade dos nossos dias.


– Conclusão
É urgente inverter a marcha da educação e do ensino e sensibilizar para esse facto a opinião pública. O ensino deve centrar-se no aluno, ter objectivos claros, mobilizar conteúdos, desenvolver competências, atender aos processos e obter resultados.A educação não pode depender das mudanças de governo, deve ter continuidade. Não pode ser uma guerra de poder. Quando o ensino/educação está ou é fragilizado, a própria nação fica em risco. Como diria o psicólogo Daniel Sampaio “inventem-se novas escolas” e deixem trabalhar os professores."

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