"Má fama dos professores promove indisciplina
A desconsideração do governo colocou em causa a autoridade dos professores
Rapaz, no início da adolescência e com um historial de retenções. Este é o perfil do estudante que obriga a reuniões do conselho de turma e a períodos de suspensão. Os directores das escolas de 2º e 3º ciclo conhecem o padrão, mas sabem que muita indisciplina vem de casa e da desconsideração do Governo para com os professores. A má publicidade do Ministério da Educação, a ideia feita de a classe não quer trabalhar deu força a uma geração de pais que sentou os filhos num trono. As más notas são incompetência de quem ensina e não preguiça de quem não estuda; a indisciplina é sempre com os filhos dos outros. Gualberto Soares, director da Bartolomeu Perestrelo, tem na mão os gráficos das suspensões e repreensões aplicadas aos alunos nos últimos dois anos. Lá estão os miúdos de 12 e 13 anos, do 5º e 6º ano, o tempo que estiveram suspensos e o mau comportamento que mereceu registo na caderneta. Nas quatro suspensões do 1º período, três foram para rapazes, embora a mais grave tenha sido aplicada a uma rapariga do 8º ano. A aluna - que tinha um problema de droga - já estava fora da escolaridade e, por isso, acabou por deixar a escola. "Não sabemos o que lhe aconteceu depois", lamenta o director. Não gosta de resumir os problemas a números e sabe que cada caso encerra um drama pessoal. "Há pouco tempo descobrimos que um aluno roubava os colegas para comer. Não seria justo aplicar uma repreensão a um miúdo que não tinha o que comer em casa, é bem comportado e aplicado. A escola optou por reforçar a Acção Social do aluno". A direcção abriu uma excepção, mas tem por lema aplicar sanções a quem pisa o risco. Seja por furto, por partidas aos colegas ou prejuízos no património da escola. Apesar da resistência dos encarregados de educação, é lema da Bartolomeu Perestrelo que quem faz paga. "Tivemos aqui um problema com um aluno que, por brincadeira, partiu o dente de outro ao empurrá-lo quando estava no bebedouro do recreio. O pior é que, tanto numa família como noutra, há dificuldades financeiras". O assunto resolveu-se, mas, por norma, os pais não aceitam o mau comportamento, nem as más notas. "O mais comum é responsabilizar o professor pela má avaliação. Quanto ao comportamento, a primeira coisa que dizem é que 'o meu filho não faz isso em casa', logo também não pode fazer na escola". Para Gualberto Soares, que até já foi vereador do PS, esta suspeita, esta ideia de que os professores são imcompetentes e mandriões é a consequência directa da má publicidade que o Governo de José Sócrates fez da classe. "As últimas alterações legais ao estatuto não ajudaram a reforçar a autoridade dentro das salas de aulas". Isabel Cardoso e Mónica Vieira, dirigentes do Sindicato dos Professores da Madeira, não gostam de responsabilizar os alunos. "Os miúdos são o reflexo da nossa sociedade, da vida que têm e da educação que recebem dos pais". Se em casa ouvem que os professores que são pouco esclarecidos e mal preparados, é natural que reproduzam essas ideias e questionem tudo o que faz o professor. "Já dei aulas numa escola de 1º ciclo em que os miúdos brincavam às lutas e acabavam o recreio com feridas e nódoas negras. Era o que viam nos jogos de computador e na televisão". Se é assim com a violência, explica Mónica Vieira, também é o com a imagem dos docentes. "A indisciplina não é nova", sublinha Isabel Cardoso. "Faz parte do processo de crescimento. O que é perturbador é a desautorização dentro da sala de aulas".
Consoante a idade:
No 1º ciclo, a indisciplina fica nos recreios entre os rapazes. As raparigas gerem as intrigas e os grupinhos. Os problemas de comportamento explodem no 2º ciclo. Agressivos para colegas e professores, o início da adolescência explica parte do fenómeno. A indisciplina tende a refinar-se com a idade e, no 3º ciclo, os alunos começam a desafiar a autoridade intelectual do professor. No secundário, este desafio roça, por vezes, a desconsideração e, os indisciplinados, são arrogantes e cheios de confiança.
Perfil do indisciplinado:
Rapaz entre 12 e os 14 anos
Aluno do 2º ciclo
Historial de retenções
Maior incidência no 2º período
Turmas da manhã com mais indisciplina verbal, tendência para humilhar colegas e desafiar professores.
Turmas da tarde mais dadas à violência física, a resolver conflitos com agressões. Maior incidência de furtos.
Indisciplina com professores:
Insultos
Ameaças e agressão física
Vandalismo contra o carro
Sanções contra a indisciplina:
Suspensão
Repreensão na caderneta
Trabalho para a comunidade."
Marta Caires in Díário de Noticias (02-03-2008)
Marta Caires in Díário de Noticias (02-03-2008)
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