Num destes dias, dei por mim, pela enésima vez, envolvido num aceso debate sobre A FALTA DE ASSIDUIDADE DOS PROFESSORES E AS SUAS REPERCUSSÕES NA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS.
Ao longo da “discussão” pude constatar que a demagógica campanha, que tem vindo a ser movida contra os professores, fazendo crer que estes trabalham pouco, está a enraizar-se no “Comum Sense”. Decidi então, expor aqui alguns dos argumentos que utilizei para clarificar e desmistificar um pouco este assunto.
1º - Os professores têm horários rígidos. Um atraso de cinco minutos significa falta. Em que outras profissões isso acontece? Quantas vezes, devido a um congestionamento no trânsito, a uma chuva mais intensa, a uma solicitação de última hora de um filho, etc… tiveram de chegar atrasados, sem que isso represente qualquer problema. Quando isso acontece a um professor ele … tem falta.
2º - É uma profissão muito exigente em termos psicológicos, levando a um rápido desgaste físico e psíquico. Algumas vezes por indicação médica, outras por reconhecimento manifesto da incapacidade, esse desgaste tem de ser quebrado com uma pausa. Para perceber melhor como lidar com grupos de adolescentes irreverentes pode ser desgastante, junte um grupo de 20 a 25 jovens com menos de 18 anos (podem ser familiares e quanto mais novos melhor) e tente mantê-los durante 90 minutos, numa sala fechada, interessados e atentos a uma actividade temática que lhes apresentará. Não repita a dose, pois poderá ser traumatizante (isto é para ser feito por profissionais), mas imagine o desgaste a que está sujeito quem o faz várias vezes por dia, 7 dias na semana.
3º - O ensino é uma profissão maioritariamente feminina. Sendo as mulheres, as responsáveis pela gestação dos bebés, é natural que faltem justificadamente por períodos mais longos. São também elas quem tradicionalmente, na nossa sociedade, mais acompanha e cuida dos filhos e, como tal, mais vezes têm de faltar por razões de saúde desses familiares. Como tal, é compreensível que a assiduidade na profissão docente seja menor que noutras profissões não tão marcadamente femininas.
4º - A falta de um professor tem uma elevada visibilidade social. Quando um professor falta um dia, cerca de 100 alunos dão pela sua ausência e contam a 200 pais, que mais tarde ou mais cedo, comentam com outros tantos amigos ou colegas. Ou seja, no total a falta de um único professor pode ser notada por quase meio milhar de pessoas. O que raramente acontece noutras profissões, por exemplo, quando um funcionário falta numa repartição o utente raramente dá por isso, pois o trabalho é dividido pelos restantes colegas, sofrendo apenas a velocidade de execução. Talvez seja esta uma das principais causas da imagem que a nossa sociedade tem dos professores.
Quanto às repercussões, das faltas dos professores, na aprendizagem dos alunos:
Não entendo porque os professores não podem repor as aulas em que têm de faltar. Bastaria que, para tal, fosse marcado no horário escolar uma mancha para esse efeito. Estou certo de que este seria um mecanismo de gestão que poderia minorar bastante os efeitos das ausências pontuais dos professores na aprendizagem dos alunos e contribuiria significativamente para restaurar a imagem destes na sociedade. Falta vontade política.
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