sexta-feira, julho 18, 2008

Ainda o famoso estudo

Hoje esta "novela" teve mais um capítulo, by DN-Madeira, na qual o Magnífico Reitor intervém:

[Doutoramento não é para todos
"O que sei é que houve cinco pessoas que disseram que o estudo está bem"
...


Embora não conheça o estudo de Liliana Rodrigues, Telhado Pereira não questiona sequer a qualidade científica por acreditar na seriedade do processo e nas regras seculares dos meios académicos."O que sei é que houve cinco pessoas da área, o júri do doutoramento, que dedicaram a vida à investigação e que disseram que o estudo está bem". As leituras que dele se fazem é outra coisa, embora o reitor realce que as autoridades portugueses não facilitem o acesso a dados estatísticos como o fazem os Estados Unidos. "Não é por acaso que são ai maiores os progressos científicos". O essencial é que as universidades desenvolvam estudos independentes, que estes. "Não me parece correcto levar para a discussão política o que é da universidade. Isso não quer dizer que os professores façam voto de não participação política. Qualquer cidadão num estado democrático pode participar na vida política. Já ao contrário não é possível, não é qualquer cidadão de um estado democrático que faz parte de um júri de doutoramento. Têm que chegar a doutorados".]
...
in DN-Madeira (17-07-2008)

Considero esta, uma intervenção necessária, porém despropositada nos termos. A actividade política num país democrático deve ser tão respeitada como qualquer carreira universitária. Na minha opinião, temos todos muito a ganhar aprendendo com os outros. Também há por ai muitos Professores Doutores a quem não faria mal umas aulas de “Introdução aos Princípios Democráticos”.
Mas voltando ao tema e ignorando (propositadamente) o comentário mesquinho que dá título à noticia, saliento uma declaração que deixa transparecer aquilo que tenho vindo a afirmar:

"...embora o reitor realce que as autoridades portugueses não facilitem o acesso a dados estatísticos como o fazem os Estados Unidos. "Não é por acaso que são ai maiores os progressos científicos".

Nunca coloquei em causa a seriedade da investigadora nem do Júri, que certamente serão competentes. Apenas salientei o que julgo ser um erro de amostragem que é perfeitamente passível de acontecer nestes casos.
Por experiência própria sei da dificuldade que é seleccionar os dados apropriados, tratá-los estatisticamente, e por vezes até, conseguir esses dados. Porém, ingratamente, um erro ou uma omissão nesta fase, pode inquinar todo um estudo elaborado com seriedade e coerência. Não é por acaso que, para um mesmo assunto, podem existir estudos “para todos os gostos”.
Claro que, se a isto aliar-mos a exacerbada exploração mediática e política, só pode gerar agitação, alarido e nenhum esclarecimento. Note-se que diariamente se repetem notícias sobre o tema e ainda ninguém justificou os números apresentados.
Trabalhando apenas com os dados de que dispomos e realizando um breve exercício especulativo, podemos imaginar o seguinte cenário:
Se, como julgo, houve erro na amostra, os números apresentados são injustificáveis, pese embora todo o raciocínio subjacente (desenvolvimento do estudo) esteja correcto. Os elementos do Júri podem ter dado por seguros os valores apresentados, que segundo a pesquisa que efectuei são coerentes, se analisar-mos exclusivamente os dados do INE, que ocultam os alunos entre os 15 e os 20 anos a frequentar outros níveis de ensino (4463 alunos em 2001, ano que analisei). O problema é que os dados apresentados pelo INE não apresentam uma desagregação passível de despistar um equívoco deste género na amostra (as tabelas 2 e 3 do post anterior já o possibilitam). Logo, por essa via, dificilmente o Júri poderia ter detectado o problema . O único indício de desajustamento da amostra seria a hiperbolização dos valores, mas quem pratica investigação (mesmo não sendo doutorado) sabe que, por vezes, nos deparamos com valores que nos surpreendem.
Como tal, não coloco em causa a competência dos intervenientes, mas contrariamente à opinião do Senhor Reitor, considero que podemos e devemos SEMPRE analisar com espírito crítico todos os estudos, seja qual for a sua proveniência. Evitando aproveitamentos mediáticos, políticos ou de outra índole. E sempre com serenidade e sem corporativismos exacerbados que apenas obstam ao aprofundamento do conhecimento.
Com os dados de que disponho, continuo a afirmar que provavelmente existiu um erro de amostragem.

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