terça-feira, julho 15, 2008

71% SEM ENSINO SECUNDÁRIO... BASTA QUE SIM!!!!

Segundo o DN de 14-07-2008

71% sem ensino secundário

Trabalho incidiu sobre a integração dos alunos no ensino profissional

["Apenas 51% do total de jovens da Região, em idade de frequentar o ensino secundário, entre 1997 e 2004, efectuaram a matrícula. Esta foi uma das conclusões a que chegou a investigadora Liliana Rodrigues, do Centro de Investigação em Educação da Universidade da Madeira (CIE-UMa). Na tese de doutoramento sobre "A integração escolar dos alunos do ensino profissional nível III nas escolas públicas da Região Autónoma da Madeira", a docente começou por fazer uma abordagem ao ensino secundário no geral, tendo também concluído que, dos 51% dos alunos que se matricularam no período do estudo (82.881), apenas 58% terminaram o 12.º ano. Os dados poderiam ser mais dramáticos, segundo a autora do estudo, se tivermos em conta que o cruzamento entre o número total de jovens madeirenses e matriculados, entre 1997 e 2004, teve como referência uma faixa etária entre os 15 e os 20 anos, por ser, segundo a Secretaria de Educação, a média de idades com que os alunos terminam o ensino secundário, quando a idade normal de conclusão deveria ser os 18. Feitas todas as contas, apenas 29% do total dos jovens madeirenses concluíram o ensino secundário com sucesso. "Estamos muito atrás da média europeia, que ronda os 55%", sublinha a investigadora. Liliana Rodrigues explica, na sua tese de doutoramento, que 34.263 abandonaram os estudos ou não tiveram aproveitamento na escola e outros 79.911 nunca se inscreveram nas escolas secundárias da Região. Assim sendo, 71% dos jovens (114.174) ficaram sem ensino secundário, entre 1997 e 2004. Face a esta situação, Liliana Rodrigues deixa a seguinte pergunta ao poder político da Região: "É a escola lugar de igualdade de acesso e de oportunidade?"]

Como não tenho todo o tempo do mundo, peguei apenas nos valores de um ano (Censos 2001, que julgo não serem muito diferente dos restantes anos) e como até se situa sensivelmente ao meio da série de anos analisada, fui verificar a veracidade e consistência dos mesmos, pois pareciam-me absurdos.
Acabei por ter a seguinte surpresa:
A- Total de Jovens em idade de frequentar o Ens. Sec.: 23491
B- Total de Jovens com o Ens. Sec. (completo): 726
C- Total de Jovens a frequentar o Ens. Sec.: 8288
D- Total de Jovens com o Ens. Sec. Incompleto: 1151
E- Total de Jovens a frequentar o Ens. Superior:1948

Se considerar-mos
B+C+D+E = 12113 Alunos

Significa, efectivamente, que apenas 51,56% dos jovens em idade para frequentar o Ensino Secundário, frequentam ou frequentaram, esse nível de ensino.


Porém, verifiquei que subitamente tinham desaparecido das estatísticas um número demasiado elevado de alunos, após algumas pesquisas pelos meus arquivos descobri que, neste raciocínio (e provavelmente no referido estudo) não foram incluídos os alunos que, tendo entre 15 e 20 anos frequentam outros níveis de ensino, anteriores ao secundário.

E obviamente esse número não pode ser desprezado pois é significativo. Vejamos então esses valores:

Alunos entre 15 e 20 anos no 1º Ciclo: 83
Alunos entre 15 e 20 anos no 2º Ciclo: 250
Alunos entre 15 e 20 anos no 3º Ciclo: 3756
Alunos entre 15 e 20 anos no Ensino Alternativo: 374
Total: 4463 (que não foram contabilizados)


Alunos Matriculados, por escalões etários (Ano lecivo 2001/2002)


Fonte:SRE

Se refizermos as contas, atendendo aos 12113 alunos considerados, acrescendo os 4463 alunos não considerados, obteremos um total de 16576 alunos entre os 15 e os 20 anos que frequentam ou frequentaram o Ensino Secundário.
Assim, a percentagem dos jovens em idade de frequentar o Ensino Secundário, que efectivamente o fazem ou fizeram é de 70,56%, o que altera por completo todos os cálculos posteriores.

Posto isto, não me debruçarei mais sobre o assunto. Pois, tendo apenas dedicado duas horas a esta mediática noticia, não percebo como tal estudo pôde passar pelo crivo do Júri e pelos orientadores de Doutoramento.

Pelos vistos, o ensino superior também não goza de boa saúde!!! Mas isso é outra conversa.
Só tenho pena que outros não façam como eu e verifiquem os dados antes de opinar, em jornais, blogues etc…





3 comentários:

Roberto Rodrigues disse...

Sr. Ilidio,

Não sei se já viu o texto do DN-Madeira de hoje sobre o tema, com as diversas reacções?...

Qual é a sua opinião?...

Cumprimentos

Roberto Rodrigues

Ilidio Sousa disse...

Caro Sr. Roberto Rodrigues

Julgo que se refere à reacção do Magnífico Reitor da UMA. Acho, antes de mais, uma intervenção necessária mas despropositada nos termos, pois a actividade política num país democrático deve ser tão respeitada como qualquer carreira universitária. Na minha opinião, têm ambos muito a ganhar aprendendo uns com os outros, pois também há por ai muitos Professores Doutores a quem não faria mal nenhum, umas aulas de “Introdução aos Princípios Democráticos”. Mas voltando ao tema e ignorando o comentário mesquinho que dá título à noticia, saliento uma declaração que deixa transparecer aquilo que tenho vindo a afirmar:

"O que sei é que houve cinco pessoas da área, o júri do doutoramento, que dedicaram a vida à investigação e que disseram que o estudo está bem". As leituras que dele se fazem é outra coisa, embora o reitor realce que as autoridades portugueses não facilitem o acesso a dados estatísticos como o fazem os Estados Unidos. "Não é por acaso que são ai maiores os progressos científicos".

Como certamente se recorda, nunca coloquei em causa a seriedade da investigadora nem do Júri, que certamente serão competentes. Apenas salientei o que julgo ser um erro de amostragem que é perfeitamente passível de acontecer nestes casos.
Por experiência própria sei da dificuldade que é seleccionar os dados apropriados ao estudo, tratá-los estatisticamente, e por vezes conseguir esses dados. Porém, ingratamente, um erro ou uma omissão nesta fase, pode inquinar todo um estudo elaborado com seriedade e coerência. Não é por acaso que, para um mesmo assunto, podem existir estudos “para todos os gostos”.
Claro que, se a isto aliar-mos a exacerbada exploração mediática e política, só pode gerar agitação, alarido e nenhum esclarecimento. Já reparou que, diariamente, se repetem notícias sobre o tema e ainda ninguém justificou os números apresentados. Se, como julgo, houve erro na amostra (nos dados) aqueles números serão injustificáveis, pese embora todo o raciocínio subjacente (desenvolvimento do estudo) esteja correcto.

Anónimo disse...

É inexplicável com tudo isto passou no crivo de tantos "magníficos".
As percentagens estão erradas e os números são absurdos.
A SREC indica 16 mil no máximo em comparação com os 114 mil indicados no estudo.